Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) realizou atividades com mulheres refugiadas e migrantes em Brasília
Oferecer um futuro melhor às filhas e filhos foi o que motivou a venezuelana Carolina a deixar seu país e rumar para o Brasil. Há apenas uma semana, ela desembarcou em Brasília (DF) com o marido e oito filhos, com idades entre 4 e 17 anos, em busca de um recomeço para a família.
“Queremos dar casa, estudos e oferecer condições para que eles sejam
pessoas melhores, que avancem e não fiquem estagnados no mesmo lugar”, afirma
Carolina.
Nesta semana, no Dia Internacional da Mulher, Carolina participou de
atividades propostas pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) no Centro de
Acolhida e Integração das Aldeias Infantis, onde a família está abrigada. Com
outras residentes e na companhia das três filhas mais novas, ela assistiu à uma
oficina de empregabilidade no novo laboratório de informática do Centro e
integrou uma roda de conversa sobre direitos, mediada pela Oficial Associada de
Proteção de Violência Baseada em Gênero do ACNUR no Brasil, Eliana Moreno.
Eliana convidou as mulheres a compartilharem sua visão sobre o acesso a
direitos em um país diferente do seu, e abordou temas como saúde física, mental
e reprodutiva, segurança, educação e empregabilidade. “Mulheres e meninas
refugiadas e migrantes enfrentam ainda mais barreiras para acessar direitos e
oportunidades por não serem nacionais e por conta da desigualdade de gênero.
Hoje tentamos oferecer a elas um momento de reflexão e entendimento de que,
para oferecerem cuidados aos outros, é preciso, primeiro, cuidarem de si mesmas”,
explica.
Inclusão digital
A carência de informação é um dos fatores que impõem barreiras
adicionais para mulheres refugiadas e migrantes acessarem seus direitos. Por
isso, capacitá-las para o uso de inovações e tecnologias digitais é
fundamental.
Estima-se, globalmente, que 37% das mulheres não usem a internet. Se as
mulheres não conseguem acessar a rede e não se sentem seguras online, elas
falham em desenvolver as habilidades necessárias para se envolver em espaços
digitais, o que diminui suas oportunidades de seguirem carreiras relacionadas à
ciência, tecnologia, engenharia e matemática, áreas que serão responsáveis por
75% dos empregos até 2050.
Neste ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu o tema
“DigitALL: Inovação e tecnologia para a igualdade de gênero” para observar o
Dia Internacional das Mulheres. O objetivo da escolha é mostrar o impacto da
lacuna digital de gênero no aumento das desigualdades econômicas e sociais, e
também destacar a importância de proteger os direitos de mulheres e meninas em
espaços digitais.
A fim de incentivar a inclusão digital entre a população venezuelana no
Brasil, o ACNUR doou 72 laptops para centros de acolhidas das Aldeias Infantis
no país. Em Brasília, 18 deles estão à disposição para o uso de residentes e
funcionários desde o dia 8 de março.
Para a educadora social das Aldeias Infantis, Keyla Julia, o laboratório
é um avanço na inclusão digital das pessoas residentes, especialmente daquelas
mais vulneráveis. “O laboratório vai ajudá-las a acessar informações e cursos
de português online, buscar emprego e conversar com a família que está longe,
já que muitos chegam aqui sem nem ter um telefone celular”, afirma.
Empregabilidade
Além de informação, o acesso a ferramentas e espaços digitais seguros
proporciona oportunidades de meios de vida para mulheres refugiadas e
migrantes. Das mais de 10 mil pessoas venezuelanas interiorizadas pela Operação
Acolhida por meio de vaga de emprego sinalizada desde 2018, menos de 30% são
mulheres.
No recém-inaugurado laboratório de informática das Aldeias Infantis em
Brasília, as mulheres também participaram de uma oficina de empregabilidade
oferecida pelo ACNUR, com dicas para encontrar emprego formal no Brasil, e
ajuda para se cadastrar em uma plataforma online de vagas.
Solange foi uma das residentes que participou da oficina de
empregabilidade. Mãe solo de quatro filhos entre 2 e 15 anos, sendo uma delas
autista, ela faz planos de encontrar um emprego para recomeçar a vida ao lado
das crianças e fora do abrigo. “Estamos aqui como refugiados e precisamos sair
logo para buscar trabalho. A oficina nos mostrou por onde podemos começar a
fazer as coisas por nossa conta”, disse.